Fonte: Azul Profundo
A grande erupção, conhecida como “do Pico Alto”, que ocorreu a norte do aparelho vulcânico do Guilherme Moniz, já existente, derramou as suas lavas a grande distância. Mais tarde, uma nova erupção, desta vez basáltica, rasgou o solo e iniciou um processo que levaria à formação de um vulcão estromboliano – O Pico do Carvão. Numa primeira fase, ao forçar e tentar romper o derrame traquítico, já existente e que constituía uma barreira natural de consistência pouco “colaborante”, formou a zona da lagoa e as duas abóbadas sobre a mesma. Posteriormente, numa nova tentativa de evasão, as lavas basálticas, romperam mais ao lado a actual chaminé, saindo para o exterior. Na sua fase final o magma desceu para o interior das condutas mais profundas e da câmara magmática, dando origem, essa ausência quase instantânea do magma, à formação do Algar propriamente dito.
Os derrames de lava muito efusiva, produziram rios de lava ácida muito fluídas que carbonizaram vegetação existente. A datação de um dos fósseis então formados, dá para o Algar do Carvão uma idade de aproximadamente dois mil anos.
O cone vulcânico, que alberga no seu interior, situa-se sensivelmente no meio da ilha Terceira, a norte da cidade de Angra do Heroísmo, distando desta cerca de 12 Km por estrada. O acesso é fácil, recorrendo à rede viária pública que apresenta sinalização suficiente para o efeito. Possui uma posição geográfica de coordenadas 38º 45’ N e 27º 15’ W e uma altitude de sensivelmente 640 m.
O primeiro relato de uma descida ao Algar do Carvão de que se tem conhecimento data de 26 de Janeiro de 1893, com a utilização de uma corda, levada a cabo por Cândido Corvelo e José Luís Sequeira. Uma segunda descida foi efectuada por Didier Couto, em 1934, que elaborou o primeiro perfil do Algar. Em 1962 outro grupo desconhecido terá descido. Apenas a 18 de Agosto de 1963, se deu início a descidas organizadas ao interior do Algar, por um grupo de entusiastas, que mais tarde se haviam de organizar numa associação denominada de “Os Montanheiros”, com recurso a um sistema mais elaborado.
Com recurso a sistemas de iluminação portáteis mais eficientes foi possível a progressão no Algar de forma a explorá-lo até ao mais remoto e ínfimo buraco. Com a recolha de elementos caídos no chão foi possível trazer à luz do dia e aos olhos de todos uma mostra de alguns dos materiais que componham a gruta. Após as primeiras descidas, e com o valor patrimonial que haviam reconhecido nesta cavidade, decidiram que algo de tão belo e raro deveria ser partilhado com muitos outros. O sistema de descida, pela boca do Algar, não tornava essa tarefa viável, uma vez que levavam praticamente um dia para fazer descer e subir 6 a 8 pessoas, mesmo assim muitas foram as expedições realizadas com esse propósito, que nos fins-de-semana faziam deslocar dezenas de populares a cada vez. Uma solução mais funcional, para levar os interessados ao interior do Algar, estava no entanto à vista. Com os Montanheiros já constituídos, foram feitos levantamentos topográficos para a abertura de um túnel, de forma a permitir um fácil acesso a quem quisesse visitar e estudar este algar. Com início em 28 de Maio de 1965 e até 28 de Novembro de 1966, aos fins-de-semana e feriados, conseguiram os Montanheiros rasgar um túnel de 44 metros até ao interior do algar, que veio mais tarde a ser alargado e consolidado a betão. Foram feitas escadarias no interior, inicialmente em madeira para permitir o acesso à parte inferior do algar. Diversos actos de vandalismo destruíram totalmente essas escadas interiores. Posteriormente, em 1977, foi construída a actual escadaria em betão, com uma extensão total de 300 metros, repavimentada e alargada em 2003.
O valor e mérito que a associação Os Montanheiros mostrou, em todo este longo período de expedições ao Algar, nomeadamente com a abertura do túnel e a construção da estrada, não passaram despercebido ao proprietário dos terrenos, com quem os Montanheiros mantinham uma relação de amizade, e que haviam autorizado verbalmente todas essas acções. Não é pois de estranhar que a 30 de Novembro de 1973 uma porção desse terreno, que albergava o algar, fosse doada por José Ataíde da Câmara e sua esposa aos Montanheiros. Foi doada ainda a faixa de terreno, onde Os Montanheiros haviam rasgado o acesso, derivando do Caminho do Cabrito, que facilitava a chegada ao Pico do Carvão e que actualmente se tornou em caminho de domínio público. É sem dúvida a cavidade vulcânica mais conhecida nos Açores tendo-se tornado na primeira com condições de recepção a visitantes, nomeadamente com uma entrada artificial desenvolvida para esse fim (túnel), electrificação permanente, horário e calendário anual de aberturas ao público. Após o término do caminho e do túnel, procedeu-se à respectiva inauguração, a 1 de Dezembro de 1968, data da primeira abertura ao público. Era então o algar procurado e visitado pela população destas ilhas e alguns turistas que por cá passavam, guiados por elementos de “Os Montanheiros”, e iluminados por focos de mão, de testa e candeeiros a gás. Em 1987 conseguiu-se terminar a montagem de um primeiro sistema de iluminação fixa no interior, alimentado por um gerador. Com o decorrer do tempo, foi construída uma casa-apoio para recepção dos visitantes e outra para albergar os grupos geradores e arrumos. Actualmente este Algar está aberto durante o Verão a todos aqueles que o queiram visitar, registando anualmente uma procura da ordem dos vários milhares de visitantes.
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