Fonte: Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás
Bombeiros Militares de Posse resgataram no sábado, dia 10, um espeleólogo francês acidentado na caverna Terra Ronca 2, em São Domingos. No total, sete pessoas participaram do resgate, entre eles três Bombeiros militares de Posse – Tenente Xavier e Soldados Santana e Marat , um Bombeiro Militar do DF – 1º Sargento Aquino -, que participava do grupo de exploração na hora do acidente e alguns guias de caverna que foram recrutados na própria região.
A vitima explorava o local quando se desequilibrou e caiu. Seu pé ficou preso entre as rochas no momento da queda provocando assim uma fratura interna no membro inferior direito. Devido ao isolamento do local e a falta de comunicação a guarnição foi acionada somente horas após do sinistro.
Do ponto onde a viatura do Corpo de Bombeiros podia chegar até o local onde estava a vitima foram gastos cerca duas horas, sendo necessário transpor uma mata fechada, descer em um cânion utilizando técnicas de rapel e depois fazer uma caminhada de aproximadamente 500 metros dentro da caverna transpondo um rio e passando por pontos extremamente estreitos.
Ao chegar à vítima, a guarnição imobilizou o membro fraturado, colocou-a sobre a prancha rígida, fez a amarração de segurança e utilizou uma manta de alumínio para aquece-la. A vítima permaneceu consciente, porém muito cansada e com fortes dores. A equipe encontrou diversas dificuldades para a realização do resgate. Como a maioria das cavernas da região, a gruta Terra Ronca 2 é alagada e bastante acidentada. O ponto mais favorável encontrado para a realização do resgate foi uma clarabóia localizada a centenas de metros da vítima.
Foram utilizadas mochilas estanques servindo como bóias para carregar a prancha com a vitima sobre a água do rio, vários cabos de 100 e 50 metros, polias e demais equipamentos de salvamento em altura, como o ascensor para formar o sistema de suspensão da vítima imobilizada na prancha rígida.
Após a retirada da vítima da caverna, outro obstáculo foi a mata fechada que circunda o local. Para isso, foram utilizadas diversas técnicas de carregamento de vítimas, estimulando a criatividade e desafiando a resistência física dos socorristas. Da chegada no local da ocorrência até a saída com a vitima para o hospital foram 11 horas de operação, os militares chegaram ao local as 20h45 do dia 10 de dezembro e saíram com a vitima as 08h00 da manha do dia 11, chegando ao hospital municipal de Posse às 10h45. Confira fotos da operação:
Olá, sou o bombeiro de Brasília citado no texto.
Fui o primeiro a ser contactado sobre o acidente na tarde do sábado e em seguida liguei para os Bombeiros de Posse, estava na pousada São Mateus no momento, eu havia saído da caverna com minha esposa e filha e mais outro casal que estavam cansado. Ficaram na caverna o guia Sr. Ramiro com um grupo e mais o Sr. Jean-Loup com dois estudantes (pós-graduandos) da USP que foram fazer uma prospecção num trecho ainda não estudado da caverna.
No briefing de socorro, assessorados pelo conhecimento indiscutível do Guia Ramiro sobre a caverna, foi decidido acessarmos pela clarabóia “Buraco das Araras” por causa da escassez de recursos humanos (somente tínhamos 9 pessoas contando com os dois estudantes que estavam com o acidentado, isso impossibilitou o transporte pela saída normal da caverna) e de equipamentos: contávamos com uma prancha rígida trazida pela guarnição de bombeiros de posse(o que não é adequado para resgate em caverna), os equipamentos de 1ºSOS (imobilizações e curativos), algumas fitas solteiras e os equipamentos individuais somente para descida. O restante dos equipamentos: polias, blocantes, mosquetões, fitas, 2 cordas de 50m e uma de 25m eram meus.
A falta de experiência em resgate em caverna dos demais componentes do grupo formado para a operação foi outro fator que nos levou a eleger este percurso menor mesmo que mais técnico porque somente eu tinha treinamento em espéleo-resgate (curso com o SSF – Spéleo Secours Français).
Ficou, então, dois dos bombeiros e mais um guia na parte superior da clarabóia, acima do único “degrau” negativo, o ponto onde foi necessário fazer um içamento da vítima na cadeirinha(a prancha não oferecia segurança para um içamento na vertical) e dos outros pois, não possuíam equipamentos de subida em corda.
Notem pela foto que somente eu (de macacão vermelho) possuía iluminação para caverna, este fator também contribuiu para a decisão de não percorrermos trechos muito isolados da caverna sob o risco de alguém ficar sem iluminação.
Este ocorrido contribuiu para acelerar o processo de vinda do GSBM e do SSF para ministrar um curso de Espéleo-Resgate que, a princípio, seria em Brasília mas que já está sendo estudada a possibilidade de ser feito na região de Posse – São Domingos (no PETER) para melhorar as condições de resposta destas ocorrências nas cavernas do parque, os acertos do curso estão sendo feitos pelo EGB (Espéleo Grupo de Brasília) com minha participação.
Espero ter contribuído com este blog e aproveito para agradecer aos colegas Bombeiros de Posse que não mediram esforços no desempenho desta missão, ao bom e sempre prestativo Ramiro, a seu filho calado mas presente, ao guia “Pesqueiro” por sua alegria e disposição, à pousada São Mateus que não se furtou em ajudar no que foi possível, ao Daniel Briant que nos levou um café maravilhoso ainda dentro da mata após a saída da caverna, ao Sebastian e à Maria Gracia que ficaram com o Jean Loup todo o tempo e ainda ajudaram muito no resgate mesmo com todo o cansaço e ao próprio Jan Loup que mesmo acidentado depositou toda confiança na nossa equipe, sendo espeleólogo experiente sabia das dificuldades que estávamos passando.
Abraços a todos
Luiz Antonio Aquino Caetano
Luiz Aquino, agradecemos o relato, o espaço está aberto para suas contribuições!
Forte abraço
Verdade seja dita, ne, galera! q tal mudar o texto q vcs postaram, com a verdade verdadeira!
OLá Lucia, a notícia foi reproduzida de um fonte segura e não cabe a nós mudar o texto original. A partir dai o espaço está aberto para as diversas manifestações, como a do Luiz Aquino, que muito contribuiu para elucidar o fato. Quando vc afirma que a verdade deva ser postada, isso significa que vc conhece outra história que não é de nosso conhecimento, dessa forma o mais correto é que vc escreva e publique essa história, o espaço está aberto para isso.
Forte abraço
Luis
Meus parabéns pelo resgate!
A sua análise completa da situação, local/eqptos/pessoas, foi decicivo para o sucesso do resgate, pena que essa situação de falta de equptos e pessoal treinado é uma coisa comum no Brasil, espeleo-resgate é algo muito técnico e complicado, são muitos fatores envolvidos e sem uma liderança e voz consciente a chance de problemas é grande. Mais uma vez parabéns.
–
Independente do relato jornalistíco nao ser 100% íntegro, (o que é normal pois na visão dos jornalistas é assim que os fatos devem ser mostrados, ja tive mais de 10 reportagens pessoais distorcidas), Consegue-se compreender o que aconteceu, foi uma fatalidade, uma pedra solta, que aconteceu com alguém muito experiente (melhoras Jean!), e poderia ter acontecido com qualquer um.
Todos sabem que qualquer atividade tem seu grau de risco, cabe a NÓS reduzir o máximo possível dele, e caso aconteça algo não devemos denegrir a imagem nem de quem sofreu o acidente (se causado por imperícia ou não), nem por quem trabalhou no resgate, pois somente quem estava vendo e vivendo a situação é que irá compreender.
Os verdadeiros heróis não saem em jornais e nem sempre ganham medalhas.
Boas cavernadas a todos.
caro Ericson, este tema suscita uma discussão muito rica e necessária:
1 – a quem cabe as responsabilidades oficiais/legais no espeleoresgate aqui no Brasil? aos Bombeiros? aos Espeleologos “registrados”? À ambos?
2 – Sou paramédico e o protocolo tradicional que seguimos não permite medidas invasivas (via oral, endovenosa, intramuscular ou intradermica) nos socorros convencionais mas, sabemos que numa caverna a coisa é diferente, o tempo de duração da operação trás outras necessidades que o protocolo não contempla.
3 – Vivemos uma realidade distinta da de outros países referência, como os da Europa e EUA, e temos que achar nosso ponto ideal. Sem “reinventar a roda” é claro mas, adaptarmos o que já existe.
Grande abraço a todos!!!
Parabéns Aquino,
Depois dizem que o merecimento tem que acabar no CBMDF.
mas… parabéns mesmo.
Valeus
Bom dia a todos,
Sou Jean Loup, a vítima do acidente que ocorreu sábado passado em Terra Ronca 2.
Espeleologo do “Groupe Spéléo Bagnols Marcoule” (GSBM, França) desde 1972, morei muitos anos no Brasil (1992-1999, e agora desde 2008), e participei na organização da grande expedição franco-brasileira Goiás’94 (GSBM Bagnols, GREGEO Brasília, GBPE Belo Horizonte) no carste de São Domingos em 1994. Durante esta expedição, mapeamos Terra Ronca 1 e 2, e descrubimos a rede Malhada que se conecta a Terra Ronca 2.
Sábado 10/12, estávamos passeando na caverna de Terra Ronca com um grupo de amigos (nos quais Aquino) guiados por Ramiro e seu filho. No final da visita com o grupo de amigos até o salão dos namorados, continuei a visita com dos jovens espeleologos do Grupo ECA de Lima (Peru) : Maria Gracia e Jean Sebastien, respectivamente em doutorado e pos-doutorado na USP São Paulo, sob a direção cientifica de nosso colega e amigo Francisco da Cruz (Chico Bill).
No inicio da galeria Malhada, fiz uma pequena caída de 1 metro, e meu pé ficou bloqueado numa pedra, e com a torção do corpo, o tornozelo direito quebro. Jean Sebastien foi avisar rapidamente o guia Ramiro, que se comunicou com Aquino para organizar o resgate. Confirmo completamente a versão do resgate de Aquino.
O resgate funcionou bem, com um chegada rápida da equipe de intervenção (8 horas depois do acidente). O resgate em si demorou também 8 horas do fato da falta de pessoas e de equipamentos adequados.
Agradeço imensamente Aquino para o trabalho realizado, assim como meus amigos de cavernas Maria Gracia, Jean Sebastien, Ramiro e seu filho, sem esquecer o guia Pesqueiro e os bombeiros Marat, Santana e Xavier do Corpo de Bombeiros Militares de Posse.
Abraços.
Jean Loup
Jean Loup,agradecemos seu relato,o espaço está aberto para suas contribuições!
Até mesmo pessoas experientes como vc estão sujeitas a acidentes, faz parte da espeleologia.
Ocasiões como essas mostram o quanto precisamos estimular a organização do espeleo resgate no Brasil.
Torcemos pelo seu rápido reestabelecimento!
Forte abraço
Parabéns a toda a equipe por este resgate, com certeza os meritos deste resgate é para esta equipe, porém devemos deixar algumas coisas claras aos leitores, primeiro NÃO existe o profissional PARAMÉDICO aqui no brasil, e em segundo ja existem estas preocupações em treinamentos a algum tempo pois em março de 2010 ocorreu uma expedição a TERRA RONCA promovido pela SBE( sociedade Brasileira de espeleologia)/BEC(Babilonicos espeleo clube) com participação do GVBS ( Grupo Volumtario de Busca e Salvamento) do PETAR e com a participação do EGB, um dos objetivo foi o curso de primeiros socorros e resgate em cavernas entre outros e tivemos a participação de um grupo de quatro homens do corpo de Bombeiro de Posse, este relato é para não esquecermos os esforços dos amigos.
Parabéns Aquino, mais uma missão cumprida!
Gostaria de parabenizar também o amigo Marat, SD do CBMGO.
Abraço!
Leonardo Barros.
Salve, todos!
Sou Rafael Sant’Ana, o SD Santana, bombeiro que também participou do resgate do espeleólogo francês Jean.
Fico feliz em obter um retorno da ocorrência, pois raramente temos a oportunidade de acompanhar o desenrolar dos fatos após o sinistro.
A propósito, com a ocorrência em Terra Ronca, nós, militares do 3º Pelotão Bombeiro Militar, descobrimos que realmente temos uma região belíssima e de grande potencial turístico de caverna, entretanto temos também uma enorme responsabilidade em manter uma equipe especializada. Logo após o acidente, o SD Peregrino e eu fizemos um curso de espeleo resgate em São Paulo, coordenado por Valdecir e o GVBS PETAR. Uma oportunidade incrível de adquirir técnicas específicas para esse tipo de resgate que foi aproveitada ao máximo por nós. Pouco depois o SD Marat e o SD Carlos também realizaram um curso de espeleo resgate, mas na nossa região, PETER.
A situação ainda está muito distante de ser a ideal, por falta de equipamento, especialização e principalmente material humano, pois só quem participou de uma ocorrência real sabe o quanto é difícil realizar um resgate com um número reduzido de socorristas, mas gostamos do que fazemos e compensamos as deficiências com muito suor e zelo ao próximo para que ninguém fique para trás.
Obrigado!
Este fato vem mostrar a dura realidade do turismo de aventura ou ecoturismo que é realizada no Brasil: falta todo tipo de infraestrutura. Desde o acesso, hospedagem, equipamentos, socorro, etc. Parece que quem explora este filão de “turismo” está mais preocupado com o próprio bolso do que a vida de quem por ali se aventura. Enfim falta profissionalismo! Se tal acidente aconteceu com um especialista em espeleologia (que por sorte e graças a Deus conseguiu se safar com alguns ferimentos), imagine os riscos a que estão expostos aqueles, que, sem nenhum conhecimento ou treinamento, adentram às cavernas, ambientes tidos como inóspitos e altamente perigosos atraídos apenas pela curiosidade. Não sou especialista no assunto, o máximo que já fiz foi adentrar alguns metros em cavernas ou grutas tendo a luz do dia como guia. Por isso acho que este tipo de “turismo” ou atividade deveria ser melhor fiscalizada e normatizada pelo Governo, se possível que fique restrito apenas a pessoas com o mínimo de conhecimento, já que, em caso de acidentes, o que fatalmente pode ocorrer, principalmente em períodos chuvosos, as condições de socorro são precárias ou inexistentes. Ou que estes locais sejam dotados com toda infraestrutura para oferecer o conforto necessário aos visitantes, sem sustos, sem atropelos, sem mortes…