Nas cavernas do Danúbio (Alemanha), as primeiras notas musicais

Fonte:  O POVO online

Nos últimos anos, arqueólogos descobriram no sudoeste alemão os primeiros resquícios de arte e música deixados pelos humanos modernos que migraram da África para a Europa. Agora, novos estudos revelam que os mais antigos instrumentos musicais do mundo —flautas feitas de ossos de aves e marfim de mamute— são  mais velhos do que se pensava.

A equipe de Thomas Higham, da Universidade de Oxford, divulgou em maio o aprimoramento dos testes de radiocarbono, o que permitiu datar os ossos das flautas em 42 a 43 mil anos. A idade coincide com a época em que os primeiros humanos de anatomia moderna se espalhavam pela Europa Central, presumivelmente ao longo do vale do Danúbio.

Os testes anteriores apontavam uma idade de 35 mil anos para as flautas, assim como outros artefatos encontrados em cavernas perto de Ulm (Alemanha) e nas cabeceiras do Danúbio, como  estatuetas de marfim de mulheres voluptuosas. A flauta de osso mais bem preservada, com cinco furos para os dedos, foi recolhida na caverna de Hohle Fels. A nova análise com radiocarbono se baseou em um  material  recolhido na caverna Geissenklösterle.

Diante dos primeiros relatos sobre a flauta de 35 mil anos, alguns acadêmicos demoraram para rever suas avaliações sobre as mudanças culturais decorrentes da chegada dos humanos modernos, que substituiriam os neandertais nativos, 30 mil anos atrás. Isso porque datações por radiocarbono anteriores a 30 mil anos podem não ser confiáveis.

No entanto, Nicholas Conard, arqueólogo da Universidade de Tübingen, na Alemanha, um dos autores do estudo, diz que as novas descobertas são “consistentes com a ampla gama de inovações vindas do Alto Danúbio”.

Após a descoberta de vários pedaços de flautas, amostras de arte figurativa e notáveis decorações nas cavernas, Conard disse que as novas datas amparam a tese de que o Danúbio foi “um importante corredor de migrações humanas e transmissões tecnológicas rumo à Europa Central entre 40 mil e 45 mil anos atrás”.

Segundo as pesquisas feitas por Higham, os ossos submetidos à datação foram enterrados nas mesmas camadas de terreno que as flautas da caverna de Geissenklösterle. Eles foram tratados contra contaminações por uma ultrafiltração avançada.

Os resultados, escreveram os pesquisadores, “implicam que as datas anteriores se deveram a uma descontaminação insuficiente do colágeno ósseo”.

Se as novas datas estiverem corretas, dizem os cientistas, os humanos modernos passaram pela região do Alto Danúbio —fazendo música— antes da Era do Gelo, há 39 mil anos.

Na cronologia baseada nas datas mais recentes para as flautas, supunha-se que eles tivessem esperado o clima melhorar antes de percorrer o Danúbio.

Por JOHN NOBLE WILFORD

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