Descoberto novo conduto na Caverna de Santana: Conduto Primeira de Suzi

No ano passado divulgamos a descoberta do Salão Pierre Martin, situado acima da galeria do Rio Roncador, com acesso vertical e alcançado através de uma escalada. O salão é caracterizado pela sua dimensão e riqueza de espeleotemas que o colocam como um dos mais bem ornamentados da Caverna de Santana.

A documentação mais completa possível de uma cavidade como a de Santana exige exploração sistemática e detalhada, proporcionando descobertas como o Salão Pierre Martin, mas nada, absolutamente nada pode ser desconsiderado.

Berlendis na Caverna de Santana. Acervo: Pierre Martin

Berlendis na Caverna de Santana. Acervo: Pierre Martin

Em Setembro de 2010 mapeamos uma galeria longa conhecida, mas até então sem denominação, que constava inclusive em um mapa anterior equivocadamente como Galeria das Lontras.

Essa galeria está localizada no fundo da Caverna de Santana, aproximadamente 250 metros a montante do Salão Esther, paralela a Galeria das Lontras e uns 20 metros antes do Salão Berlendis (homenagem de Pierre Martin a um companheiro de exploração – imagem a esquerda), o salão mais profundo da galeria do Rio Roncador, caracterizado por imensos desmoronamentos que interrompem momentaneamente o caminhamento pelo leito do rio.

Como reconhecimento ao histórico da Caverna de Santana, batizamos essa galeria já conhecida, mas ainda não denominada, de Galeria Theodoro Knecht. Na década de 1930 Knecht que pesquisava a riqueza mineral da região do Alto Ribeira, projetou e construiu passarelas de madeira sobre o rio Roncador, até o salão Ester, no intuito de facilitar a extração do minério de chumbo do “filão de Furnas”, tendo sido provavelmente um dos primeiros a conhecer esse trecho da caverna.

Esse episódio é narrado por Michel Le Bret no texto “Pierre Martin e a Exploração da Caverna de Sant´Anna” que compõe a publicação “Em homenagem a Pierre Martin”:

           A primeira exploração conhecida da caverna Sant´Anna data dos anos 1930, quando o engenheiro de minas Theodoro Knecht fez construir passarelas por sua equipe de mineiros e percorreu o curso do rio subterrâneo numa distância que ele estimou em 2000 m.”

Saiba mais sobre os trabalhos de Theodoro Knecht na região:

FORMAÇÕES ESTRUTURAES, PARTICULARMENTE KÁRSTICAS, DO MUNICIPIO DE APIAÍ (Estado de S.Paulo), por Theodoro Knecht, (Páginas 98 a 109), Revista Geografia, Ano 1, Número 1, 1935, Associação dos Geógrafos Brasileiros – S.Paulo.

De onde extraímos, e reproduzimos com a grafia original da publicação, a parte relacionada à Caverna de Santana, aonde Theodoro Knecht relata a exploração:

“Pouco mais ou menos a 2 quilometros para o Sul, está situada a entrada da caverna Sant´Ana. Essa caverna, cuja entrada fica cerca de 15 metros acima do nível do Rio Roncador, maior afluente do Rio Betari, representa-se conforme o seu comprimento de mais de 15 quilometros, como a maior caverna que existe na região. As vertentes do rio Roncador são formadas pelo córrego Salgado na Fazenda Vidal, e pelo ribeirão da caverna Lage Branca. Esta ultima, é uma das mais gigantescas cavernas da zona, e atinge em certos lugares uma largura de mais de quarenta metros, e cerca de trinta metros de altura. Pelos estudos feitos por ordem do Snr. Oswaldo Sampaio, a caverna do Roncador foi levantada até um comprimento de 2 quilometros e meio, ponto em que o estreitamento impediu a continuação dos estudos. O curso subterrâneo do Roncador, não acompanha como é de regra a direção das camadas calcareas, mas atravessa pela força erosiva as diversas camadas e também os filitos, os quaes provocaram uma obstrução e estremecimento da caverna em muitos lugares.

Acima desta caverna passa o ribeirão das Furnas e o rio Roncador da caverna Sant´Ana atravessa pelo seu curso subterrâneo a mesma formação em direção Nordéste. O cascalho depositado pelo rio Roncador nesta caverna, é aurífero com teor apreciável em ouro, porque essa caverna corta no seu curso subterrâneo tambem, a continuação ocidental do veeiro de ouro da Serra das Lavras. Conforme a sua direção Nordéste pretendia-se encontrar pela caverna as partes mais profundas do filão de Furnas. Entretanto conseguimos chegar somente até 400 metros perto do filão, devido á mudança de rumo do Roncador mais para Oéste, porém no futuro será essa caverna de grande utilidade para a mineração.”

Nota do GPME: Felizmente os planos de futuro de Theodoro Knecht não se concretizaram e todo e qualquer risco de “utilização” mineraria da Caverna de Santana foi definitivamente afastado com a decretação do PETAR em 1958. Mas ressaltamos que as cabeceiras do Rio Roncador e outras cavernas associadas ao Sistema Subterrâneo do Rio Roncador (Sistema Pérolas – Santana: Gruta da Lage Branca, Gruta Tobias, Gruta das Pérolas, Gruta do Anjo, entre outras), se encontram desprotegidas. Ressaltamos a máxima importância de inserir essas cavidades dentro da proteção legal de uma unidade de conservação.

Na ocasião da topografia que realizamos em Setembro de 2010 observamos que no final do conduto, agora batizado de Theodoro Knecht, havia uma continuidade lateral com aproximadamente 15 cm de altura com o piso todo em argila e profundidade suficiente para permitir a passagem de uma pessoa, mas é claro, com um dedicado trabalho de desobstrução por escavação. A falta de uma ferramenta para auxiliar na escavação, assim como o avançado da hora após mais de 150 metros de topografia de teto baixo definiu um retorno futuro ao local.

Pierre Martin, Albert Martin e Roberto Avari na topografia da Caverna de Santana.

Pierre Martin, Albert Martin e Roberto Avari na topografia da Caverna de Santana.

A necessidade de fato de retorno ao local se deu após uma análise da evolução da linha de trena da topografia da Caverna de Santana. Identificamos que existe um alinhamento descontínuo da fratura que vem do final da caverna, seguindo pela Galeria das Lontras, continuando em um braço da Galeria Teodoro Knecht, com a galeria a ser desobstruída exatamente nesse alinhamento e sentido da Galeria Irmãos Avari (Homenagem de Pierre Martin aos irmãos Fabio e Roberto Avari, companheiros de exploração), conforme figura abaixo:

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Talvez o nome mais adequado para um possível novo conduto fosse pulga atrás da orelha, fazendo jus à sensação que sempre acompanhava a lembrança daquele ponto da Caverna de Santana. No entanto se essa regra fosse considerada, haveria milhares de condutos com essa denominação mundo afora.

Em 16 de Novembro de 2012 seguimos para tirar a tal pulga de trás da orelha…

Percorrendo o Rio Roncador ultrapassamos o Salão Ester, nos aproximamos do Salão Berlendis, aproximadamente 2.000 metros de trajeto em relação a entrada (ressurgência) da Caverna de Santana mais 150 metros de teto baixo da Galeria Teodoro Knecht, repleta de argila e pequenos lapiás afiados e cortantes, e alcançamos o ponto de desobstrução.

Foram aproximadamente 2 horas de trabalho contínuo de remoção de argila suficiente para a passagem segura da equipe. Esse mesmo cenário já ocorrera em outro contexto, fazendo outra menção ao texto de Michel Le Bret sobre a exploração realizada em julho de 1968 por Luis Marinho e o francês Alain em outra galeria da Caverna de Santana localizada na continuidade natural do Salão Ester, quando a equipe se transformara em “homens de argila”.

Após alguns metros alargando a pequena passagem, a galeria se tornou ampla o suficiente para permitir o caminhamento de joelhos, resultando em um prolongamento por mais 20 metros e encerrando de forma instransponível com a rocha calcária obstruindo o caminho, e assim agregamos um novo conduto à topografia da Caverna de Santana, denominado Conduto Primeira de Suzi, fazendo menção a exploração com desobstrução. A figura abaixo mostra o trecho do mapa com a nova galeria:

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Em 2011, outro pequeno conduto descoberto foi agregado à topografia da Caverna de Santana e já está presente no mapa. Localizado ao lado esquerdo do Salão Berlendis, inferior ao prolongamento lateral do salão, denominamos de Conduto Cascudo em alusão a grande quantidade de cascudos observados na ocasião da descoberta e topografia, assim como pela dificuldade de acesso e caminhamento, sempre baixo e estreito. Independente de suas dimensões o Conduto Cascudo se releva muito importante por se tratar de mais um afluente do Rio Roncador.

Assim como o Conduto Primeira de Suzi e Conduto Cascudo, descobrimos outras inúmeras continuações (de pequenas e grandes proporções) na Caverna de Santana, algumas em fase de documentação. Aos poucos vamos divulgando essas descobertas.

Ressaltamos que somente se faz uma completa documentação de uma cavidade, documentando de fato por completo, no deleite das largas e amplas galerias e salões, mas também no arrastamento árduo das pequenas e estreitas galerias.

Saiba mais sobre as explorações e mapeamento da Caverna de Santana:

Descoberto novo salão na Caverna de Santana: Salão Pierre Martin

Ampliado desenvolvimento da Caverna de Santana (PETAR): 8.373 metros – Maior caverna do Estado de São Paulo

Confira a galeria de fotos:

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