PETAR, Serra da Onça Parda: Explorações verticais, novas cavernas e abismos

Figura 1 - Localização Sistema Espeleológico Onça Parda - Morro Preto - Couto

Figura 1 – Localização Sistema Espeleológico Onça Parda – Morro Preto – Couto

Essa atividade teve como foco dar continuidade aos levantamentos espeleológicos executados nas dependências do PETAR e foi concentrado no Sistema Onça Parda – Morro Preto – Couto (Figura 1) que, como o próprio nome indica, é um sistema cárstico espeleológico que envolve as cavernas homônimas, totalizando 46 cavidades (Figura 2)  entre descobertas, mapeadas e, ou, exploradas ao longo de 26 anos.

Figura 2 - Cavernas localizadas no Sistema Espeleológico Onça Parda – Morro Preto - Couto

Figura 2 – Cavernas localizadas no Sistema Espeleológico Onça Parda – Morro Preto – Couto

Recentemente a trilha que atravessa o tal sistema passou a integrar o projeto de Trilha do Continuum, com 72 km que liga o Núcleo Santana, no PETAR ao PE Intervales. Além disto, das cavernas que compõem o patrimônio espeleológico do PETAR, a Caverna da Onça Parda e o conjunto formado para grutas do Morro Preto e do Couto foram reconhecidas por Ricardo Krone em 1900, considerado o pioneiro das pesquisas espeleológicas, arqueológicas, paleontológicas e etnográficas em São Paulo.

Após Krone, a região somente voltaria a ser visitada nas décadas de 1960 e 1970, por personalidades como Pierre Martin, Guy Collet, Michel Le Bret e por clubes de espeleologia, como o CEU formado por estudantes da USP. Desde sua fundação, exatamente na Serra da Onça Parda, o GPME vem atuando de forma mais sistemática e com maior frequência na documentação das cavernas ali existentes.

–  Localização

O Sistema Onça Parda – Morro Preto – Couto está situado na porção sudeste do PETAR com acesso pelo Núcleo Santana, feito pelas rodovias BR116, SP165 e SP193 – Rodovia Antonio Horácio da Silva, que comunica as cidades de Apiaí e Iporanga, sul do Estado de São Paulo. A região está inserida na paisagem do Alto Vale do Ribeira.

–  Hidrografia

A área compreendida pelo Sistema Onça Parda – Morro Preto – Couto corresponde à bacia do Córrego do Couto situada à margem esquerda do Rio Betari, afluente do Rio Ribeira de Iguape. O Córrego do Couto escoa, predominantemente, por meio subterrâneo por uma faixa SO-NE de rocha solúvel com cerca de 600 metros de largura por 3,06 km de comprimento. O comprimento abrange o sumidouro, ou, ponto de recarga mais distante, sob o Paredão da Onça Parda, a nordeste, até a sua única ressurgência, ou ponto de descarga, na Cachoeira do Couto, a 15 metros de distância e 5 metros de altura da margem esquerda do Rio Betari.

–  Geometria da área

A área total do Sistema Onça Parda – Morro Preto – Couto mede 6,5 km², dos quais 4,4 km², ou, 68,4% do total, compreende a superfície impermeável, ou, halogênica e a superfície de recarga autogênica permeável é de 2,05 km², ou, 31,6% do total. O comprimento horizontal total da bacia do Córrego do Couto medido em plano cartográfico 1:10.000 do IGC (2001) é de 4.367,08 metros. O comprimento horizontal da drenagem cárstico-espeleológica total entre o sumidouro do Paredão da Onça Parda e a Cachoeira do Couto é de 3.060 metros. A amplitude vertical desse trecho é de 209 metros; ao passo que a declividade é da ordem de 6,83%. Por sua vez, o gradiente hidráulico do aquífero cárstico espeleológico é de 0,068. O total de condutos subterrâneos topografados até o momento é de aproximadamente 3.300 metros.

– Geologia e geomorfologia cárstica

O sistema tratado compreende uma faixa carbonática do Bloco Lajeado formada pela Formação Bairro da Serra, descrita por CAMPANHA et al, (1986, p. 1.063) como

(…) “mármores cinza-escuro impuros, margosos, apenas localmente bandados, em geral calcíticos, localmente dolomíticos, de granulação fina, ocorrendo ainda níveis de filitos carbonáticos, filitos sericíticos e metassiltitos. Presença de sulfetos disseminados é por vezes observada. Abriga mineralizações sulfetadas filoneanas. A estratificação é normalmente plano-paralela, podendo-se observarem alguns locais estratificações cruzadas acanaladas centimétricas a decimétricas. Nesses locais, a textura da rocha sugere um calcoarenito. Feições semelhantes a estruturas de deslizamento subaquático também ocorrem”.

A Formação Bairro da Serra, assim como as demais, tem idade Pré-Cambriana entre 600 a 650 milhões de anos (KARMANN e SANCHEZ, 1979, p 17-24), apresenta caráter rítmico, estratificação gradacional, representando sucessão de sistemas turbidíticos, com leques submarinos (KARMANN, 1994, p. 13).

Considerando-se a corrosão de rochas carbonáticas pela ação de águas meteóricas levando à abertura de condutos profundos no interior maciços carbonáticos. As taxas de entalhamento no Alto Vale do Ribeira giram em torno de 0,0029 a 0,0052 cm/ano, totalizando a temporalidade de 240.10³ anos até o presente (op cit, p. 150).

Boa parte das cavernas do Sistema Onça Parda – Morro Preto – Couto apresenta desenvolvimento vertical bastante significativo, podendo ser classificadas como abismos, cavernas verticais ou shafts. Do total de cavidades existentes os valores medidos somados até o presente são

–        3.286 metros de desenvolvimento horizontal e

–        789 metros de desnível.

– Resultados

Como em todas as outras ocasiões em que o GPME esteve em expedição no PETAR, as atividades renderam dados e informações visando aumentar o patrimônio espeleológico. Tendo em vista o fato de que o grupo atua em várias frentes ao mesmo tempo, tais como: Na ocasião desta última expedição, os trabalhos foram concentrados no Sistema Onça Parda – Morro Preto – Couto, com a continuidade dos trabalhos de exploração de cavernas verticais já parcialmente documentadas e da prospecção em busca de novas cavernas que agreguem valor ao patrimônio espeleológico já existente.

Na ocasião tratada por este texto foi determinado que o contingente de participantes formasse duas equipes munidas com receptor GPS e equipamentos de técnicas verticais para, ao mesmo tempo, posicionar e explorar eventuais cavernas inéditas e reposicionar cavernas anteriormente conhecidas, mas precariamente localizadas (Figura 3).

Figura 3 - Trilhas percorridas pelas equipes de campo.

Figura 3 – Trilhas percorridas pelas equipes de campo.

Ao final das atividades, os resultados foram os seguintes:

–        4 novas cavernas (Desossadas; Desossadas II; Bem Dito e Toca Couro de Cobra) a serem mais bem documentadas nos próximas expedições;

–        1 caverna vertical (Abismo Bingo) parcialmente explorado com 10 metros de desnível parcial

–        2 cavernas verticais (Dito I e II) relocalizadas e reposicionadas geograficamente. Essas cavernas foram descobertas e documentadas em 1988 na companhia do Sr. Benedito Rodrigues, o Seu Dito, funcionário aposentado do PETAR. Além da homenagem com nome emprestado às cavernas e por nos ter prestado imensa ajuda nos primeiros anos de trabalho na região, o Seu Dito também é sócio emérito do GPME.

– Referências bibliográficas

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CAMPANHA, G. A. C. Tectônica, Proterozóica no Alto e Médio Vale do Ribeira, Estados de São Paulo e Paraná. (Tese de doutorado). Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, 296 p. São Paulo, 1992.

CAMPANHA, G. A. C.  et al. Geologia e Estratigrafia da Região das folhas Iporanga e Gruta do Diabo, Vale do Ribeira, São Paulo. In Anais do XXXIV congresso Brasileiro de Geologia, Goiás. Vol. 2, p. 1058-1073. Goiânia, 1986.

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One Comment

  1. Oswaldo Jr 05/12/2013 at 03:57 - Reply

    Bom dia Pierre,

    Me chamo Oswaldo, sou enfermeiro e rapeleiro á algum tempo, ultimamente venho me especializando em resgate técnico vertical e resgates em dificil acesso. Moro em Sorocaba – SP e gostaria de deixar a disposição meus serviços como voluntário para suas expedições. Sempre que tenho um tempo vou para o Petar, onde conheço alguns guias, como o Leonardo, Jamilson Mota, Carlos, Jaques.

    att,
    Oswaldo

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