O Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GPME) realizou, entre os dias 6 e 8 de dezembro de 2024, uma campanha de prospecção na região das cavernas Minotauro II (SP-693), Diminotauro (SP-921) e Casa de Pedra (SP-315). O objetivo principal era relocalizar e topografar a caverna Casa de Pedra. Essas cavernas estão situadas na Zona de Amortecimento do Parque Estadual Intervales.
A equipe era composta pelos membros do GPME: Alfredão, Marcinha, Ana Paula, Bruno Paris (recém-apelidado de Shitake), Gi (EspeleoKids), Laka e Chokito. Além deles, contamos com a participação do Jairo, aspirante a sócio do grupo que, após essa expedição, foi oficialmente convidado a se associar.
A estratégia inicial era acessar a região pela trilha que sai da estrada que liga o PEI a Guapiara, em direção à cavidade Minotauro II. De lá, seguiríamos rumo nordeste, margeando o rio, até a caverna Casa de Pedra. Entre os participantes, apenas o Chokito conhecia a região e as cavernas. Enquanto as cavernas Diminotauro e Minotauro II foram mapeadas recentemente pelo GPME, a Casa de Pedra havia sido visitada apenas pelo Chokito em 2007.
No caminho para a Minotauro II, avistamos uma jararaca próxima à trilha. Embora a figurinha estivesse calma, seguindo seu curso, o encontro com um animal desses é sempre motivo de atenção. Ao chegarmos à Minotauro II, decidimos seguir por uma trilha acima da caverna, orientando-nos rumo ao nordeste, em direção à Casa de Pedra.
Durante o percurso, encontramos uma antiga estrada, provavelmente remanescente de sondagens realizadas na região pela Votorantim. Seguimos por ela até o ponto onde terminava, próximo ao rio. A partir dali, decidimos continuar margeando o rio no sentido nordeste, orientando-nos por um mapa previamente produzido e pelo GPS de um celular. O grupo estava se orientando pelo aplicativo Avenza, que tem se mostrado muito útil nos trabalhos de campo. Porém, nesse momento as roubadas começaram.
Por razões ainda desconhecidas, mas possivelmente relacionadas ao denso dossel, às condições meteorológicas (céu encoberto) ou às limitações do aparelho, o GPS começou a apresentar falhas de orientação. Acreditávamos estar seguindo em uma direção, mas, na prática, caminhávamos em outra. Em alguns trechos, tentamos usar o rio como referência, mas o GPS continuava indicando uma rota divergente.
Diante da situação, fizemos uma pausa para nos alimentar, recuperar as energias e planejar a próxima etapa com mais clareza. Foi então que Jairo, em um momento providencial, lembrou-se de que carregava uma bússola analógica em sua mochila. Apesar de simples, uma bússola confiável sempre aponta o norte, desde que esteja magnetizada corretamente.
O mapa digital que estávamos utilizando estava referenciado ao norte geográfico. Assim, Alfredão o orientou com base na bússola, corrigindo sabiamente a declinação magnética da região (aproximadamente 21° a oeste). A partir dessa correção, percebemos que estávamos seguindo para o norte, em vez de leste, o que nos afastava do destino.
Embora tenhamos caminhado em diversas direções, essas “roubadas” sempre nos apresentam coisas interessantes. A região que estávamos ainda não foi percorrida com detalhe necessário, no sentido de uma prospecção espeleológica sistemática. Esse desvio de rotas revelou a presença de inúmeros afloramentos de rochas carbonáticas com abrigos, pequenos condutos, rios em forma de cânions e uma possibilidade imensa de ocorrência de novas cavidades. Na região existe um potencial espeleológico interessante.
Com base na nova orientação de percurso, o grupo seguiu até encontrar uma outra antiga estrada de sondagens. Seguimos por ela por volta de 3 minutos. Então o Alfredão diz: “Chegamos na estrada!”. Aquilo seria decepcionante. Ter voltado para a estrada principal, refletia que estávamos novamente em um rumo diferente. Mas a espeleologia nunca decepciona!
Ao chegarmos nessa estrada, observamos que era outra, aberta recentemente por algum maquinário, dentro de alguma propriedade. E essa estrada levava diretamente até a Caverna Casa de Pedra! Sucesso! A coordenada da cavidade que tínhamos estava coerente. Conseguimos conferir a posição, pois em frente à cavidade, na estrada aberta pelo trator, havia uma clareira extensa permitindo um espaço para funcionamento adequado do dispositivo.
O grupo começou a explorar o entorno da cavidade e, o que era para ser apenas uma caverna se mostrou, na verdade, um grande sistema. Várias cavernas, abrigos, paredões, diversas conexões, sumidouros e ressurgências. Algo totalmente inesperado para a região. Alguns membros exploraram mais a fundo e entraram em algumas cavernas, indicando que havia continuidade. Alguns sumidouros são extensos, compreendendo redes de condutos que serão mapeados em expedições futuras. Dada a importância do sistema, surgiu a ideia de denominá-lo Sistema Alzair e Sergio Komuro, em referência e reverência a dois membros (in memoriam) do grupo.
O tempo começou a mudar, o céu roncando em trovões, decidimos retornar. Nos embrenhamos novamente pela trilha. O GPS novamente começou a indicar divergência na posição. Retomamos a bússola e, orientando o mapa, voltamos ao rumo pretendido, que era a estrada PEI-Guapiara. Conseguimos encontrar uma cachoeira muito linda no meio do caminho, a qual identificamos depois como a Cachoeira Salto do Rio Preto. Chegamos na estrada e fomos para os carros, todos bem e entusiasmados com as descobertas.
A expedição foi muito proveitosa, mas fica uma lição. A tecnologia é fundamental para avançarmos no conhecimento. Sem dúvidas, o avanço tecnológico tem permitido que as campanhas de prospecção tenham uma acuidade cada vez maior e vamos usá-la cada vez mais. Mas ela não é perfeita e está sujeita a erros. Fica, portanto, um alerta para que, em todas as expedições de campanha de prospecção, tenhamos conosco uma bússola e um mapa em papel (plastificado, se possível). O material analógico, por assim dizer, foi imprescindível para nossa locomoção na mata.
GRUPO PIERRE MARTIN DE ESPELEOLOGIA
Alfredo Luiz Bonini (Alfredão)
Ana Paula Ribeiro Costa
Bruno Daniel Lenhare (Chokito)
Bruno Paris (Shitake)
Giovana Seleghini Lenhare (Milka – EspeleoKids)
Jairo Elieser Lima Silva (Pedro Jairo)
Marcia Akemi Yamasoe (Marcinha)
Mariana Botasso Seleghini Lenhare (Laka)
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