Fonte: D24am
Os fósseis do crânio e das placas que revestem seu corpo foram descobertos nas últimas semanas em uma caverna daquele estado por pesquisadores de diversas universidades.
Palmas – Houve um tempo em que o tatu, em vez dos atuais 30 centímetros, media 2,5 metros. Em que, em vez de 3 quilos, pesava 80. Esse antepassado de proporções generosas viveu no Tocantins no fim da Era do Gelo, entre 15 mil e 20 mil anos atrás.
Os fósseis do crânio e das placas que revestem seu corpo foram descobertos nas últimas semanas em uma caverna daquele estado por pesquisadores de diversas universidades, capitaneados por Leonardo Ávilla, do Laboratório de Mastozoologia da Unirio.
Ainda é cedo para dizer se o tatu gigante é uma nova espécie. Outros com este tamanho —alguns até maiores — foram descobertos em Minas Gerais ainda no século XIX e, mais tarde, na Argentina. Veio de lá, aliás, seu nome de batismo: Pampatherium. Em bom português, “a besta dos pampas”.
Como nem tudo muda, os tatus de hoje e os antigos tinham em seu encalço o mesmo predador: onças. Uma delas, aliás, teria sido a responsável por arrastar o Pampatherium para dentro da caverna e fazê-lo de refeição. Embora haja também outra possibilidade:
— Encontramos no mesmo local os fósseis de um urso, que teria cerca de 3 metros de comprimento — conta Ávilla. — As cavernas eram muito disputadas pelos predadores, porque ali poderiam criar seus filhotes, além de comer com mais calma.
Com os vestígios da espécie coletados, a equipe da Unirio espera descobrir mais sobre as condições climáticas da região. O Centro-Oeste brasileiro seria frio e seco, proporcionando a existência de uma fauna totalmente diversa da atual. Ao tatu gigante, que pastava o dia inteiro pelo campo, faziam companhia uma antecessora da lhama — hoje só encontrada nos Andes — e a macrauquênia, que lembra um camelo com uma pequena tromba. Todos foram extintos com o aumento das temperaturas e da umidade, à exceção das onças.
— A análise dos isótopos dos fósseis nos dará uma noção de qual era a temperatura daquela época — revela Ávilla. — Os grandes herbívoros não conseguiram se adaptar ao novo ambiente, e o urso, que se alimentava deles, também desapareceu. As onças sobreviveram por terem muito mais presas, do jacaré a pequenos roedores.
O tatu gigante dá um impulso à paleontologia no Tocantins, onde foram encontradas, nos últimos anos, centenas de cavernas com alto potencial para a descoberta de fósseis. Ávilla fez sua primeira expedição em 2008 e, com o financiamento do CNPq, retornou duas vezes à região, no ano passado e este mês. Os pesquisadores conseguiram apoio até da população local, cujas lendas recomendam o distanciamento das grutas. O tatu certamente concordaria.
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