RELATÓRIO: TREINAMENTO E SIMULADO EM ESPELEORRESGATE – Mar/2023

  1. INTRODUÇÃO
    Com o aumento significativo de pessoas frequentando regiões remotas e de difícil acesso, como cavernas, para realizarem atividades técnicas, científicas, ou de turismo, cresce também o número de ocorrências e acidentes nesses locais.
    Para resgatar aqueles que se acidentam, ou se perdem nestas regiões de difícil acesso, é necessário dispor de equipes de resgate bem treinadas, e com conhecimentos específicos indispensáveis em salvamentos nestes ambientes naturais, nos quais as condições para o resgate são adversas e hostis.
    O resgate em cavernas, o espeleorresgate, é um dos mais difíceis e técnicos resgates existentes no mundo.
    Tendo por objetivo a prevenção de acidentes e a atuação em caso de necessidade, o GPME promoveu nos dias 18 e 19 de março de 2023 um treinamento de noções básicas de espeleorresgate seguido de um mini-simulado, envolvendo os monitores do Parque Estadual Intervales e associados GPME.
  2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
    Sábado, 18 de Março de 2023
    Local: Salão de Eventos da Onça Pintada
    No período da manhã, os associados instrutores Marcello Vazzoler, Alfredo Bonini, Simone Devus e Jaqueline Samila ministraram noções básicas sobre: importância e gestão do resgate, importância da prevenção de acidentes em cavernas, abordagens da vítima, análise de risco, primeiros socorros, assistência e socorro a vítima – ASV, hipotermia e ponto quente, importância do kit pessoal, sistemas de tração de maca, sistemas de comunicação com fio (SPL) e sem fio (TPS) em caverna, sistema de evacuação, entre outros.
    Os participantes do evento assinaram lista de presença para posterior emissão de certificado, já impresso e entregue aos participantes. Os registros fotográficos das atividades foram feitos pelo associado Leandro Bugni, previamente destacado para essa atividade de registro.
    No período da tarde foram realizadas atividades práticas. Os participantes foram divididos em 3 equipes, com oficinas rotativas de 1 hora de duração cada uma: oficina de ponto quente (Simone Devus e Jaqueline Samila), oficina de sistemas de comunicação (Alfredo Bonini e Maria Augusta Bacellar) e oficina de abordagem da vítima, acomodação da vítima na maca e porteio (Marcello Vazzoler). As equipes passaram por todas as estações, encerrando o primeiro dia de treinamento por volta das 17 horas.

Após as atividades de sábado, o STAFF se reuniu para analisar o mapa da Gruta Colorida (local do simulado no dia seguinte), definir os integrantes das equipes e separar os equipamentos necessários para a realização do simulado de espeleorresgate.
A noite de sábado foi marcada pela comemoração do aniversário de 36 anos do GPME na sede de pesquisa do parque, na companhia dos monitores. Foi previamente combinado entre todos que a comemoração seguiria com moderação para não afetar de forma alguma a atividade do domingo.

Domingo, 19 de Março de 2023
O dia começou com o posicionamento da vítima (associado Ericson) e parceira associada Irene na Gruta Colorida. A simulação seria que os associados Jaqueline e Duck encontrassem os dois na caverna e voltassem para avisar a equipe de resgate, com algumas informações importantes. A vítima escolhida não era de conhecimento de todos participantes, seguindo até o momento do inicio do resgate em condição de surpresa.
Por volta das 7h da manhã, a vítima ficou posicionada na caverna (local: após o desmoronamento, segue a linha do rio a montante até um salão seco à esquerda), e Jaque e Duck voltaram com a seguinte informação; casal de turistas adentrou a caverna de manhã, Ericson sofreu uma queda média, teve uma fratura na perna (tíbia), consegue se mover parcialmente, sem lesão cervical, mas não consegue andar para sair da caverna. A vítima foi colocada no salão seco, hidratada, ficou em companhia de uma pessoa (Irene) e os outros dois saíram para procurar ajuda externa.
Chegando na sede de pesquisa, foi feita uma breve reunião com os membros da equipe que já haviam chegado. A equipe de comunicação já havia ido para a caverna para decidir como e onde seriam instalados os fios de comunicação e os rádios TPS Nicola e SPL. A divisão de equipes foi comunicada, a distribuição de tarefas, assim como a separação e carregamento dos materiais necessários.
Chegando à gruta, a equipe de comunicação já estava instalando os sistemas de comunicação, então entraram a equipe de ASV e seguiu adiante rumo à localização da vítima, sendo rapidamente alcançada devido às orientações dos “moleque lá”. Chegando na vítima, a equipe ASV deu as primeiras orientações e assistência à vítima (verificação do estado geral, análise de risco do entorno, proteção contra hipotermia com manta térmica, hidratação, alimentação, imobilização da fratura na perna, entre outros cuidados). Enquanto isso uma parte da equipe iniciou a montagem do ponto quente, para proporcionar maior conforto à vítima, instalando-a em local seco, plano, para que a vítima pudesse repousar e ser assistido até que tudo estivesse pronto para a evacuação. A equipe analisou bem o local e escolheu um bom lugar para tal, o ponto quente foi instalado corretamente e a vítima foi transferida para lá, sendo assistida pela monitora ambiental Edna do começo ao fim da operação.
A equipe de comunicação montou o sistema sem fio e com fio na boca da caverna, sendo operados pelos associados Maurício Moralles e Alfredo Bonini e pela monitora ambiental Eliana. Os rádios internos foram instalados próximos de onde estava o ponto quente, fornecendo em tempo real informações gerais básicas e estado geral da vítima durante toda a operação, sendo montados e operados pelas associadas Maria Augusta (Magu), Irene, Val e Giovana e participação na comunicação ASV pela associada Jaqueline.
Nesse momento, havia a preocupação de todos em uma passagem complicada na caverna, com teto baixo e água, de complicado posicionamento da equipe de porteio, então o monitor ambiental Sr. Faustino, conhecendo bem a caverna, nos deu a ideia de mudar o trajeto para outro caminho superior, que não foi planejado antes, pois não era de conhecimento das equipes ASV e Comunicação, que desviaria essa passagem, então decidimos alterar o trajeto, para evitar molhar a vítima e a maca, ou até mesmo ter uma possível submersão parcial, o que seria desagradável e arriscado.
Assim que o sistema de tração de maca foi montado na entrada da caverna (há escadas, então houve a necessidade de montar e operar um sistema de guincho com vantagem mecânica – com contrapeso) pelos associados Gilson, Vazzoler e Gabriel; a comunicação foi informada que a equipe de porteio estava pronta e iria adentrar a caverna para levar a maca que seria usada para o transporte da vítima.
A equipe de porteio chegou com a maca no ponto quente. A equipe de ASV instalou a vítima na maca e então o ponto quente foi devidamente desmontado e a equipe geral de porteio ficou preparada para seguir com os procedimentos de evacuação. O líder de porteio de maca foi definido (monitor ambiental Sr. Faustino), foram dadas as orientações gerais de evacuação, então o caminhamento seguiu.
A maca passou por vários lugares complicados: escorregadios, apertados com pontas de rocha, locais com exposição moderada, rampas inclinadas, desmoronamentos de rochas, etc. A equipe geral de evacuação teve muito trabalho para se coordenar e fazer um efetivo carregamento da maca por esses lugares de complexo caminhamento (que até mesmo os monitores consideraram de nível avançado).
Durante todo o trajeto foram tomados os devidos cuidados e toda a assistência foi dada à vítima. Chegamos então próximos a entrada da gruta, onde foi montado o sistema de tração para que a maca pudesse subir pelas escadas turísticas, onde não havia espaço para o carregamento dela pela equipe de porteio. O sistema foi operado sem contratempos, a maca subiu corretamente e foi direcionada para o próximo sistema, saindo com sucesso da caverna. A equipe de porteio deu continuidade ao exercício de carregamento de maca na trilha da gruta, de elevada dificuldade, devido as características da vítima e toda movimentação realizada no interior da caverna. Enquanto isso, a equipe de comunicação recolhia os equipamentos e desmontava os sistemas de comunicação.
O resgate durou em média 8 horas, a vítima foi retirada da caverna com sucesso por volta de 13h. A última equipe retornou a Sede de Pesquisa por volta das 15h.

Oportunidades de melhorias para os próximos simulados:
Melhorar o sistema de gestão do resgate, entendemos a necessidade de ter um coordenador geral que fique na boca da caverna e gerencie tudo o que ocorre durante toda a operação e seja comunicado de todas as etapas e possa tomar as decisões mais acertadas possíveis.
Necessidade de ter ido algumas vezes para a caverna e ter avaliado melhor todo o caminhamento da mesma, assim como o estudo mais detalhado do seu mapa, pois na prática as dificuldades encontradas poderiam ter sido previstas com mais conforto. Ressaltando que em situação real a operação de resgate pode ocorrer em cavernas sem mapeamento ou de desconhecimento da equipe de resgate.
Necessidade de ter mais pessoas responsáveis por toda a organização, pois de 32 participantes, apenas 5 se envolveram mais profundamente, e todos têm uma carga semanal ocupada de trabalho em suas vidas pessoais, e acabou sobrecarregando apenas algumas pessoas. No caso isso prejudicou a separação de equipamentos, pois afunilou para apenas 3 pessoas separar e pegar todos os equipamentos na sede do GPME, sendo as mesmas 3 responsáveis por comprar carnes e coisas para churrasco e festa GPME, arrumar a carga, entre outras atribuições.
Necessidade de os membros associados GPME estarem periodicamente fazendo cursos e treinamentos de aprimoramento para terem mínimas noções básicas de espeleorresgate.
Necessidade de gerenciamento adequado, fazer lista de equipamentos necessários para o resgate e organizar certinho as mochilas de ASV e equipe técnica.
Criar lista com responsável por recebimento de equipamentos (ASV, COM, TEC) para conferência no final da atividade.
Na colocação da vítima na maca, a equipe ASV não tinha o conhecimento de que teria que colocar o KED na vítima antes de colocá-la na maca Mamute (por esse motivo que a vítima reclamou depois que sentiu todo o relevo durante o trajeto, mas não foi também muito incômodo, porém se fosse uma vítima real com lesões reais, principalmente de coluna, a situação seria mais complicada).
A equipe de comunicação observou que o trajeto da maca foi alterado, e já haviam instalado os fios no trajeto que havia sido combinado antes. Por isso a necessidade do planejamento prévio, de líderes da equipe terem ido antes para analisar todo o trajeto. Mas o caminhamento alternativo só foi de conhecimento de todos após Sr. Faustino ter dito que conhecia um trajeto melhor, o que foi muito bom, na realidade. Mas isso realmente foi um pouco tarde, mas não comprometeu o resultado da comunicação, por ser um desvio curto.
A escolha da maca: percebemos a necessidade de se escolher outra maca mais adequada para o resgate em caverna: TSA ou NEST. A maca deve, de preferência, ser envelope, ter alças mais seguras e confortáveis, ser rígida, entre outras.
Equipe de porteio: apesar de terem sido orientadas a seguir as ordens do líder, e fazer o máximo de silêncio possível, na prática foi diferente, com altas vozes que dava para escutar na boca da caverna, conforme relatos. Por isso a necessidade de mais treinamentos para que a evacuação seja mais tranquila, silenciosa, segura e fluida.

  1. Conclusão:
    Os próximos simulados deverão incluir estudo detalhado do mapa acompanhado de, no mínimo, uma visitação à caverna selecionada, para melhorar a gestão da atividade. Através de todos os inputs recebidos, observamos que a organização de um simulado de espeleorresgate requer o envolvimento de um número maior de associados do GPME para otimizar o processo, desde o deslocamento de pessoal à aquisição de mantimentos e equipamentos necessários para garantir o sucesso da atividade, sem comprometer a rotina diária dos membros envolvidos.
    Entendemos que as oportunidades de melhorias apontadas durante a atividade serão levadas em consideração para o próximo planejamento.
    Vale ressaltar que os objetivos foram atingidos, o espelorresgate foi concluído com êxito e monitores do PEI treinados dentro das expectativas da comissão organizadora.
    Agradecemos ao Parque Estadual Intervales e Fundação Florestal pelo apoio permitindo a realização da atividade e envolvimento da equipe de monitores ambientais.
    Parabéns, GPME, pelos 36 anos de história e comprometimento com a Espeleologia!

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