Fonte: Rostos On-line
Grutas e sítios arqueológicos inéditos, que remontam ao Neolítico e à Idade do Bronze, têm sido descobertos na investigação realizada no concelho de Setúbal com vista à publicação da Carta Arqueológica da Arrábida.
Os resultados de ano e meio de trabalho da equipa da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa (FBAL) que está a cooperar com o Município de Setúbal foram apresentados ontem numa palestra que decorreu na Casa da Baía, no âmbito do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.
“A Serra da Arrábida tem sido um desafio complexo”, referiu o arqueólogo Manuel Calado, explicando que só pela topografia, com acessos difíceis e locais perigosos nas cotas mais altas, “é um osso duro de roer”.
O investigador, que lidera a equipa da FBAL, constituída principalmente por arqueólogos e espeleólogos, começou por explicar que uma carta arqueológica tem o objetivo de aumentar o conhecimento das diferentes épocas, mas também de defender o património arqueológico, com vista à gestão numa perspetiva turística ou ambiental.
Embora exista, há duas décadas, uma carta arqueológica distrital com dados que foram conhecidos nos séculos XIX e XX, os atuais trabalhos de prospeção na serra permitiram “rever os sítios arqueológicos que já estavam publicados” e registar sítios inéditos com uma precisão conseguida graças ao recurso do GPS.
“A arqueologia usada há vinte anos não era tão pormenorizada e era localizada sem muita precisão”, salientou Manuel Calado.
Além do trabalho de campo, existe toda uma organização dos chamados achados avulsos, materiais que aparecem dispersos no terreno. “Artefactos perdidos cujo significado arqueológico é pouco mas pode ser a ponta do iceberg”, explicou o coordenador do projeto.
Vestígios de habitações e até mesmo a suspeita de um convento na Mata do Solitário, círculos de pedras, estruturas hidráulicas, fornos de cal e outras estruturas foram também identificados.
Apesar dos resultados surpreendentes, Manuel Calado refere que “o grande sítio na Serra da Arrábida é o castelo dos mouros”, um dos povoados da Idade do Bronze “mais espetaculares”, acessível através dos Picheleiros, que “não foi muito documentado antes”.
Até agora, a meio do projeto de três anos para a elaboração da Carta Arqueológica da Arrábida, foram identificados 27 povoados pré e proto-históricos, do Neolítico Antigo à Idade do Bronze.
Na área da espeleologia, estão identificadas 25 grutas “magníficas” no concelho de Setúbal no âmbito da investigação para a elaboração da Carta Arqueológica da Arrábida, a qual abrange também o município de Sesimbra.
O acesso a muitas das grutas, algumas encontradas pelos espeleólogos Rui Francisco e Ricardo Mendes, como a da Figueira Brava e a Lapa Verde, constituiu um verdadeiro desafio.
Embora considerem a Gruta do Formosinho a “mais interessante”, mas de acesso complicado, a Lapa Verde, com 28 entradas aéreas possíveis, sendo possível aceder por terra e por mar, é a maior gruta conhecida no Concelho.
Além de toda a informação recolhida para a elaboração e publicação da carta arqueológica, este trabalho tem em vista a criação de um parque pré-histórico da Arrábida, “a primeira estrutura do género em Portugal”, como referiu o diretor da FBAL, Luís Jorge Gonçalves, também presente no encontro que assinalou o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, este ano com o tema “Do Património Mundial ao Património Local: proteger e gerir a mudança”.
O professor referiu a importância de “mostrar a Arrábida para o mundo”, uma vez que decorre a candidatura a Património Mundial Misto, envolvendo parcerias nas áreas da arqueologia, do ambiente, das artes e da inclusão social.
Trata-se da “construção” de uma aldeia com duas áreas de intervenção, a lúdica e a científica, desde ateliers de construção de cabanas às artes de pastorícia, passando pela pintura.
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