RELATÓRIO DE ATIVIDADES – OPERAÇÃO DE ESPELEOMERGULHO NO SISTEMA MORRO PRETO-COUTO (SP 021), 14 A 16 DE OUTUBRO DE 2022

Morro Preto – Couto: Desenvolvimento: 1755 aproximadamente até o momento (topografia em andamento)

OBJETIVO: explorar e transpor os sifões e as cavidades não inundadas presentes entre estes sifões encontrados no sistema Morro Preto-Couto. O resultado prático destas explorações deverá ser apresentado na forma de dados de topografia, imagens e um relatório do projeto.

Pré-requisitos:

  1. Equipe de espeleomergulhadores treinada e equipada.
  2. Habilidades desejáveis para a exploração nas áreas não inundadas:
    1. a-Experiência em deslocamento e longa permanência em ambientes subterrâneos (cavernas).
    1. b-Topografia (com equipamento Mnemo). Método: Estabilização do equipamento em posição fixa/calibração da bússola interna/deixa ligado no bolso da roupa/ termina, tira, coloca no cabo guia e vem coletando as informações de azimute, distância e profundidade).
    1. c-Documentação de imagem.
    1. d-Uso de sistemas de comunicação com o grupo “externo” ao sifão.
    1. e-Resposta adequada e organizada a situações de emergência.
  • A exploração de uma cavidade não inundada depende do número de espeleomergulhadores disponíveis no local:
    • Dois (mínimo aceitável) – 1 coloca o cabo guia e o outro (2) aguarda o seu retorno. Não há exploração na cavidade não inundada.
    • dois espeleomergulhadores colocam o cabo-guia, o sistema de comunicação e medem a qualidade do ar. O 3º. Espeleomergulhador permanece do lado “externo” do sifão, para auxilio em caso de emergência. Pode haver exploração da cavidade não inundada.
    • Quatro ou mais – após os procedimentos acima, pode haver exploração e topografia da cavidade não inundada mas sempre se mantendo pelo menos um espeleomergulhador no lado “externo” do sifão, acompanhando a comunicação com o grupo de exploração e preparado para agir em caso de emergência. Um número maior de espeleomergulhadores nestas condições é desejável.

Histórico:

São 4 episódios distintos de mergulhos no sifão da Morro Preto.Fazendo a conexão 1994, 1996-2000-2022!

Matheus e Baracho (1994)

          Gil Menezes (1996)

          Alexandre Du Pont e “Jerry” (apelido do RicardoTerzian)

GPME (2022).

Mergulho de 1994

Imagem 1.Anotação de um álbum de fotos do mergulho no sifão em 1994.

Esse Carlos (249) é o Carlos Zaith
Primeiro mergulho lá no sifão da Morro Preto em 1994, enviadas pelo Hudson, ex-sócio do GPME.
Primeiro mergulho lá no sifão da Morro Preto em 1994, enviadas pelo Hudson, ex-sócio do GPME.
Primeiro mergulho lá no sifão da Morro Preto em 1994, enviadas pelo Hudson, ex-sócio do GPME.

Relatos dos mergulhos realizados pelo Gilberto Menezes e Matheus Sanches, em 1996.

“O mergulho foi realizado por 2 mergulhadores que, pelo relato verbal que recebi deles, passaram 2 sifões relativamente curtos chegando em 2 galerias de cerca de 50m cada. Depois tem outro sifão com uma restrição que só daria para passar de sidemount. Eles mergulharam com cilindros duplos nas costas. Após o sifão encontraram um lago em um salão, adiante prossegue em terreno seco, inclinado. Um mergulhador tirou o equipamento para continuar e acabou desmaiando por conta da atmosfera”.

Na foto, Ricardo Luiz Terzian, junto com Ale Dupont, continuaram a exploração.
Na foto, Ricardo Luiz Terzian, junto com Ale Dupont, continuaram a exploração.

Considerações obre os gases:

Se há água corrente em ambiente subaéreo, ou seja, tem um salão, parte água parte ar, a água está movimentando.

Algumas cavernas acumulam matéria orgânica e gera o gás, que não se movimenta e circula pela densidade dos mesmos.

Ausência de ar respirável, com a taxa aceitável de pelo menos 20,9 de oxigênio, pode ser causada por vários fatores, o mais provável em ambientes de caverna, deve ser o consumo de material orgânico presente, que pode baixar de forma considerável o percentual de oxigênio aceitável, mas além da diminuição do oxigênio, pode haver também formação de gases mais densos que o ar. H2S (Gás Sulfidrico) e CO2 podem estar presentes, por deterioração orgânica, e se não tiver ventilação natural para uma troca de ar de pelo menos 12 vezes por hora, o ar fica estagnado, dificultando muito a respiração humana.

Com o monitor de gases do Jhonny, tem como monitor todos esses gases e também explosividade, em caso de formação de metano também. Isso dá tranquilidade quanto ao monitoramento atmosférico.

Não existem filtros respiráveis para H2S e CO2, por isso, ainda que sejam monitorados esses gases nesses ambientes, só existem duas opções: Sair o mais rápido possível ou utilizar equipamentos autônomos de circuito aberto ou fechado como o reabreather para respirar enquanto fica por lá.

FASE DE ORGANIZAÇÃO INICIAL DA ATIVIDADE

– Necessidade de equipe grande para carregar equipamentos;

– Necessidade de cabo guia confiável;

– Equipes treinadas e capacitadas para os procedimentos técnicos;

– Uso do equipamento rebreather (não há deslocamento de bolhas, evita desprendimento de lama do teto e sedimentos em geral);

-Coletar dados topográficos do sifão (grava a cada ponto de amarração, a distância e azimute);

– Equipamentos modernos: mudou a abordagem, melhorou a iluminação, permite explorar mais e melhor.

– Análise dos mapas, relatos anteriores de mergulhos.

– Reuniões e estudo completo da atividade, pelos mergulhadores, em vários momentos.

FASE DE ORGANIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS E PLANEJAMENTO DE ATAQUE AO SIFÃO

Entender o Sistema hidrogeológico do Sistema Onça Parda-Morro Preto-Couto.

Logística geral da atividade.

– Organização geral dos equipamentos e requisição das equipes de apoio.

– Plano de emergência para se preparar para um resgate real, tempo de resposta o mais curto possível. Elaborado por Maria Augusta Bacellar, Marcello Vazzoler e readequado por Jaqueline Samila.

– Base de apoio: (ASV, alimentação, ponto quente).

– Dupla de contato no sifão (Cris e Ísis).

– Comunicação interno para externo da cavidade: Base Flores para Base Boca Turística (TPS Nicola): Gilson, Murilo, Jaque e Lorena.

– Comunicação no pré e pós sifão: rádio SPL desenvolvido pelo associado Alfredo Bonini.

– Sobreaviso: SER e GREBS.

– Estudo de arquivos e manual do sistema Nicola de comunicação.

– Estudo de mapas e melhor posicionamento das antenas do Nicola, por Alfredo Bonini e Gilson Tinen.

A EQUIPE!

  1. Caroline Samila
  2. César Augusto Lima Conceição-GESAP
  3. Christian Alves de Jongh  – mergulhador.
  4. Flávio Oliveira
  5. Gert Seewald  (organização)
  6. Gilson Tinen
  7. Isis Rocha Dias Gonçalves
  8. Jaqueline de Almeida Samila
  9. João Franco (Jhonny) – mergulhador
  10. João Vilazio (Vila) – mergulhador
  11. Joffer Fernandes – mergulhador
  12. Lorena SamilaRiani
  13. Murilo Muller (monitor)
  14. Felipe Caetano- GESAP
  15. Pedro Ernesto – GESAP
  16. Gabriela -GESAP

RESULTADOS – SEXTA FEIRA, 14 DE OUTUBRO DE 2022

EQUIPE: Jaqueline, Murilo, Lorena, Jhonny, Vila, Ísis, Joffer.

MISSÕES:

  1. Levar parte dos equipamentos para o laguinho, início do sifão.
  2. Deixar mochilas de ponto quente na base.
  3. Montar e testar rádio Nicola TPS (interno e externo).
  4. Registro fotográfico.
  5. Levar cilindros, rebreather, demais equipos de mergulho para a base do laguinho.

Vila, Joffer e Jhonny: separar e conferir equipamentos de mergulho e acondicionar nas mochilas estanque.

 Equipamentos gerais:

     Mochilas ASV (isolante térmico, mantas e barraca térmica, fogareiro, talheres, copos, gás, velas, chá, água, kit básico de primeiros socorros,cordins, pregadores, barbante, lona, saco de dormir, etc).

Rádios TPS Nicola, injetores, specks, ganchos, fita silvertape.Rádios SPL, bobina pequena de fio, alicate, fita zebrada, fita isolante, pilhas extras, chave para abrir rádio, caixa estanque.

Resultados: Passaram primeiro e segundo sifão, ficaram de voltar para documentar tudo, fazer fotos, vídeos, coletar dados do Mnemo e Lidar.

Início: 10:40 – transporte de cilindros, montagem e teste do Nicola, ponto quente.

13:10: chegada dos mergulhadores.

15:10 – saída para sifão: Jhonny e Joffer.

15:10 – Nicola funcionou bem, com chiado (1 na boca paralelo a parede esquerda para quem sobe as escadas/ e o interno no salão flores (de frente para o salão).

Mergulho durou duas horas, conduto segue à direita.

Já tinha cabo guia do Gil Menezes, mas passaram cabo guia próprio, voltaram com dados no Mnemo, LIDAR, fotos e vídeos. Equipamentos gerais de mergulho foram deixados na caverna, para serem utilizados no dia seguinte.

A travessia levou por volta de 3 minutos, entre 30-50 metros lineares. Tivemos problemas no aparelho de topo. No dia seguinte medimos a distância exata e ataque exploratório no segundo sifão.

SÁBADO, 15 DE OUTUBRO DE 2022

Equipe: Vila, Cris, Isis, Jaque, Murilo, Jhonny, Joffer, Carol, Lorena, Gilson, Flávio, Cesar, Felipe, Gabriela, Pedro Ernesto (GESAP).

Mergulhadores: Jhonny, Joffer, Vila.

Mergulhador de apoio, base sifão:Cris.

Dupla de contato do mergulho: Cris e Ísis, com rádio SPL desenvolvido pelo Alfredo.

Apoio no sifão, carregamento deequipos: Murilo, Jaque, Lorena.

Equipamentos: Mochilas de equipamentos de mergulho geral, cilindros, rebreather, etc.

Resultados: Passaram o primeiro e segundo sifão, documentaram, topografaram e fizeram fotos e vídeos do sifão e salão seco.Passaram o fio de comunicação e montaram o rádio SPL no pré e no pós sifão. Comunicação perfeita com SPL e TPS.

12:30 Chegada da equipe geral no sifão

Teste Nicola, ok.

Dica: enterrar os injetores, molhar, fincar com specks metálicos, sinal melhorou.

13:45 – início do mergulho.

Rádio SPL instalado no pré e pós sifão, funcionou perfeitamente.

17:30 – saída dos mergulhadores do sifão, mergulharam mais um sifão, fotografaram e coletaram dados de salões secos, acharam outra passagem para mergulhar no dia seguinte.

Sifão 1: temperatura de 18 C

Profundidade máxima: 6 metros.

Distância 65 metros.

Salão pós sifão: ar analisado, respirável, 19,9 % de oxigênio.

Caminhamento até o próximo sifão, 37 metros.

Sifão 2: Acesso ao lago da cachoeira. 29 metros até a fenda da canaleta.

Lago da cachoeira, passagem Dugong.

Fala do Joffer: ar respirável, tranquilo. O medidor apontava 19.8-20%, mas essa era nossa leitura fora da caverna também.

Tem um baita escorrimento e uma entrada potencial, tanto pelo seco, quanto pela água. Produzimos a linha de trena até o ponto mais distante. Saímos otimistas e motivados. Ainda tem potencial.

Vale ressaltar que devido à temporada, o nível do segundo sifão estava baixo o suficiente para progredir sem necessidade de mergulho.

Fala do Ericson: Reparando nas fotos de ontem e hoje um sedimento de inundação nos salões. Lembra muito o que vimos na nova Rede Paivinha na Gruta dos Paiva, antecedida por um sifão antes de alcançar a ressurgência. Esse sedimento favorece uma fauna diferenciada, num eventual retorno seria interessante observar, se existe sedimento revirado, etc… Pelo que recordo não existe nenhum ponto da Morro Preto, sifão à jusante, com essas características. Podemos projetar o ponto da cachoeira externamente pra tentar identificar uma possível drenagem de origem. Pensei no Abismo da Batalha.

Fala do Joffer: Sábado à noite, estávamos revisando (bebemorando) as imagens do dia, com intuito de revisar uma passagem submersa avistada pelo Johnny. Eis que nos deparamos com um registro de uma passagem promissora, a Passagem Dugong.

A empolgação foi instantânea, tão rápida quanto a sugestão de retornarmos no dia seguinte. Acreditamos que seria importante averiguar mais de perto essa possibilidade de um novo conduto inexplorado, antes de encerrarmos as atividades.

E não é que todos toparam encarar mais um dia em campo, mesmo já tendo planos de partida, a união fez a força e chegamos lá…(não era só papo no calor da cachaça…rsrsrs).

O resultado foi esclarecedor! Agora sabemos como melhor nos prepararmos e planejarmos o próximo retorno, e com qual equipamento. Concluímos, após sentirmos o fluxo que passa pelo Dugong, que nossa melhor chance submersa de progredir é por lá.

DOMINGO, 16 DE OUTUBRO DE 2022.

Equipe: Vila, Jhonny, Cris, Joffer, Isis, Jaque, Carol, Murilo, Lorena, Gilson, Nenê.

Objetivo: transpor o terceiro sifão encontrado, para verificar o fluxo de água e a conexão.

11:00h: chegada da equipe no sifão.

Início do mergulho: 12:00

Previsão máxima de duas horas, mergulho com sistema aberto (Joffer e Jhonny, Vila no apoio externo).

Duração do mergulho: 1 hora (sem rádios SPL e TPS).

Resultados: conseguiram verificar que há conexão (passagem), fluxo de água forte, há muita possibilidade de continuidade.

Desequipagem geral, recolhimento do cabo guia, finalização.

Estamos com a linha de trena, mas ela está sem coordenada. Amarramos a uma base existente que a Jaqueline registrou.

Medidas coletadas pelo Mnemo:

São 67.6 m menos os 12.8 m da base pré-sifão.

154,8 m a partir da entrada do sifão.

Isso representa um acréscimo de mais 10% no desenvolvimento na caverna!

E no final da linha de trena, ainda continua um tantinho para cima (escalada), com potencial de sair em outro salão. Potencial também pela água.

Estes pontos na trajetória da linha são os locais de amarração, as bases.
Nesta nossa última visita, constatamos também alguns pontos de interesse com potencial real de progressão. Em laranja
Conduto lateral no 2o sifão, a Passagem Dugong

No final da linha de trena, cabo do Rico/Dupont, sifona novamente, mas a progressão é ‘quase’ intransponível. Encontramos uma alternativa, cujo fluxo ficou nítido, e promete. Acreditamos que desenvolve e se junta lá na frente.

CONCLUSÃO (Fala do Bruno Lenhare e Joffer):

Tenho trabalhado bastante na geolocalização das cavernas tanto do PETAR, quanto Intervales (e outros no Brasil afora). A noção dessa geolocalização tem permitido entender o sistema cárstico desses locais. Qual caverna se conecta com qual caverna, o tamanho do sistema, a influência da zona de recarga, entre outras características. Portanto, o trabalho na Morro Preto vem trazer luz a algumas perguntas que temos. Eu gosto de brincar as vezes, mas eu gostaria de externar o quão feliz estou com essas expedições. Embora outros espeleólogos já tenham ultrapassado o sifão, estamos começando um trabalho muito legal na região.

A tecnologia está avançando muito e permitindo ir além do que eles foram no passado. E com certeza outros irão além de nós num futuro. Esse avanço, associado à ciência, ética espeleológica, seriedade do trabalho de mergulho, são de importância sem tamanho para o reconhecimento do nosso patrimônio espeleológico.

Tudo indica que há sim, potencial real de avanço, tanto por baixo quanto por cima. E isso tudo fruto do trabalho desde 1996. Tanto dos mergulhadores, quanto das equipes. Ano que vem, avançaremos, uma realidade fácil de crer diante do que vimos recentemente. E no final das contas, uma vitória. Não só pessoal, não só do grupo, mas da espeleologia, do patrimônio, do estado, do país.

O que mudou/evoluiu de lá para cá? Temos a linha de trena, temos imagens/videos com excelente resolução, a partir dos relatos anteriores conseguimos detectar possíveis pontos novos/de interesse.

Dados coletados pelo Mnemo

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