Ambuíla terra de turismo – Gruta de Nzenzo (Angola)

Fonte: Jornal de Angola

José Bule| Uíge

Água da gruta do Nzenzo é um magnífico mistério da natureza

O passeio até Ambuíla vale também pelas paisagens entre a cidade do Uíge e o Quitexe. Depois é preciso percorrer mais 76 quilómetros em “terra batida” até ao destino. A nossa equipa de reportagem procurava a “Gruta do Nzenzo”, na aldeia Bombo, regedoria de Ambuela.
O local só pode ser visitado com a permissão das autoridades tradicionais. E é preciso cumprir um ritual para que nenhum mal aconteça aos visitantes. Quem desobedecer pode desaparecer para sempre ou, no mínimo, ficar com o corpo inflamado e cheio de comichão, como se tivesse tocado em “feijão maluco”. Na Gruta do Nzenzo tudo é possível até encontrar sereias a tomar banho ou ver cobras misteriosas que rastejam pachorrentas.

As Pedras do Bombo

Na vila de Ambuíla as autoridades locais forneceram-nos um guia, para nos levar até à gruta. Não conhecíamos o caminho da aldeia Bombo, na regedoria de Ambuela, onde o regedor Álvaro Pedro Xingue e outras autoridades tradicionais locais aguardavam por nós.
Da vila de Ambuíla até à aldeia Bombo são 17 quilómetros. Chegámos
mesmo na hora certa. O sol batia nas famosas Pedras do Bombo, que parecem edifícios. Corremos ao encontro da gruta. O regedor Álvaro Xingue não perdeu tempo e levou-nos até à famosíssima Gruta do Nzenzo.
Logo à entrada da gruta fomos ungidos na testa com uma mistura de argila e lunguila (bebida extraída da cana) e percorremos 400 metros até ao local. Antes de entrarmos na caverna ficámos de joelhos. O soba, o regedor e o sekulo pediam aos espíritos para nos
protegerem do mal.

Água misteriosa

Na caverna cai água de um pequeno orifício localizado no tecto. O regedor disse que ninguém sabe dizer de onde vem aquela água, porque nenhum rio passa próximo da gruta. “A água é misteriosa”, afirmou. A água que jorra na gruta é levada para consumo dos habitantes da aldeia Bombo através de um sistema rudimentar que alimenta o chafariz construído na aldeia.
No período nocturno, animais como javalis, pacaças, burros do mato, veados, gazelas e cabras vão descansar na gruta, “por isso, os caçadores acham que aqui é o melhor lugar para colocar as armadilhas”, disse Álvaro Xingue.
Tadi Dia Nzenzo, como o povo chama à gruta, tem muitas divisões e no passado, os colonos realizavam aqui grandes banquetes. O regedor de Ambuela lembra que eles nunca realizavam qualquer actividade sem que as autoridades locais cumprissem o ritual, para que nada de mal acontecesse.
O irmão do soba da aldeia Luvavamo desapareceu há mais de três anos por ter ido passear na gruta sem receber a bênção das autoridades tradicionais. De lá para cá, segundo o regedor de Ambuela, ninguém mais ouviu falar dele: “até agora não encontrámos quaisquer vestígios do José Augusto, que na altura tinha 27 anos”, disse Álvaro Pedro Xingue.

Falta um posto de saúde

O regedor Álvaro Xingue defende a reabilitação urgente da via que liga a regedoria de Ambuela à sede municipal de Ambuíla, para melhorar o processo de escoamento dos produtos do campo, como a mandioca, feijão, amendoim, laranja e banana.
O regedor referiu que por dificuldades no escoamento, todos os anos há prejuízos porque grandes quantidades de laranjas apodrecem.
“É também por causa das condições da via que nós nunca tivemos escolas”, disser Álvaro Xingue.
“Também não temos posto de saúde. Tratamos muitas doenças com raízes, cascas dos caules das árvores e folhas. Mas se alguém estiver muito grave somos obrigados a carregar os doentes numa tipóia até à vila de Ambuíla”, concluiu.