Campanha de Campo – Região da Paiva (ZA DO PEI) Iporanga/SP

1.       CONSIDERAÇÕES SOBRE O PATRIMÔNIO ESPELEOLÓGICO DO PEI E ZA

Os trabalhos de campo conduzidos no Parque Estadual Intervales (PEI) e na respectiva Zona de Amortecimento (ZA) tem trazido resultados muito positivos acerca do reconhecimento do patrimônio espeleológico desta Unidade de Conservação. Muitas das cavernas que lá existem, já conhecidas pela comunidade local e científica, tem sido sistematicamente ampliadas em relação ao seu desenvolvimento e conectadas com outras cavidades, o que mostra que o local pode ser considerado um sistema muito importante.

2.       RESULTADOS DOS TRABALHOS DE CAMPO (JUNHO DE 2022)

Como já foi demonstrado em relatórios anteriores, a análise da distribuição espacial das cavernas da região leva a supor que a probabilidade de conexão entre elas é muito alta. Por isso, de acordo com essa premissa, é ressaltado que os trabalhos de prospecção espeleológica são fundamentais para auxiliar a responder essa questão. Esse fato foi comprovado durante o último trabalho de campo, realizado entre os dias 25 e 26 de junho de 2022, pelo Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GPME), cujo objetivo era mapear a caverna Abismo Roça dos Rodrigues (Figura 1).

O objetivo do campo realizado foi, portanto, a localização e mapeamento da cavidade Abismo Roça dos Rodrigues, uma vez que o GPME já havia apontado a conexão com a Gruta dos Paiva, mas que o mapa ainda precisava ser feito (GPME, 2014). De posse dessas informações, o mapeamento dessa cavidade se tornou essencial para comprovar e posicionar essa conexão com a Gruta dos Paiva e ampliar, em mapa, o desenvolvimento dela.

A cavidade Abismo Roça dos Rodrigues está localizada muito próximo à trilha turística que conduz às grutas do Fendão e Bocão (essa última diz respeito ao sumidouro da Gruta dos Paiva). A entrada dela é uma dolina, cujo fundo é a entrada da cavidade.

Após a identificação da entrada da cavidade Abismo Roça dos Rodrigues, foi necessária a instalação de equipamento de técnicas verticais para realizar a descida para caverna. A cavidade pode ser dividida basicamente em 3 trechos: o Inicial que é um lance praticamente vertical (positivo), um Intermediário que é desenvolvido em teto baixo e o Final que é o trecho do rio (Fotos 1 a 3). Esses trechos serão detalhados mais à frente.

A topografia da caverna foi realizada por meio do conjunto Disto-X/Topodroid. Esse conjunto de equipamentos permite a tomada de medidas com grande precisão (menos de 0,5 graus de erro).

1.1.Breve descrição da cavidade

Como dito anteriormente, a entrada da cavidade está localizada no fundo de uma dolina que apresenta formato aproximadamente circular, com grande declive em direção ao centro. O substrato é composto por alguns blocos de calcário e uma camada de serrapilheira de aproximadamente 0,20m de espessura. No perímetro dessa dolina ocorrem indivíduos arbóreos das mais diversas espécies.

A entrada da caverna é uma abertura de aproximadamente 0,50m de altura, em forma de uma fenda, cujo comprimento maior se desenvolve no sentido NW/SE. O trecho inicial da caverna é composto por um plano muito inclinado, com presença de sedimentos terrígenos e orgânicos, praticamente vertical (positivo), com presença de muitos espeleotemas do tipo escorrimento (calcítico). É recomendado que sejam utilizadas procedimento de técnicas verticais para acesso ao primeiro nível da cavidade.

O conduto inicial é desenvolvido em forma de cânion, com largura entre 0,50m e 2,5m e altura de mais de 3 metros (Figura 2a). Após 6 metros a partir da entrada da cavidade, existe um conduto a direita que é todo desenvolvido em forma de cânion e conecta com o salão do trecho Intermediário, com larguras de até 3 metros e mais de 4 metros de altura (Figura 2b). O piso em ambos os condutos é composto por sedimentos argilosos, escorrimentos calcíticos, rocha sã (metacalcário) e depósitos de guano. Fragmentos de conchas de Megalobulimus ssp foram observados ao longo de todo o desenvolvimento desses condutos.

O trecho Intermediário da cavidade é desenvolvido praticamente todo em teto-baixo, cuja altura não supera 1,00m. Os salões são amplos lateralmente, porém baixos, com presença de espeleotemas diversos (estalactites, estalagmites, escorrimentos, coraloides, colunas, pérolas etc.) e o piso é composto majoritariamente por sedimentos argilosos e fragmentos de espeleotemas e blocos de rochas (metacalcários) (Figura 3).

Finalmente, o trecho do rio é constituído por um salão onde é possível permanecer em pé e onde o teto chega a ter mais de 4 metros de altura. O piso é composto por sedimentos argilosos e fragmentos de espeleotemas e blocos de rochas (metacalcários) (Figura 4).

As paredes apresentam diversos espeleotemas do tipo escorrimento e é possível notar o bandamento do metacalcário. É digno de nota uma represa de travertino que estava preenchida por água, cujas dimensões são de 5 metros de comprimento e 3 de largura, com uma grande coluna no centro dela.

1.1.Mapa espeleológico

Após a finalização da topografia desta cavidade, ao retornar ao escritório foi realizada a confecção do mapa espeleológico (Figura 5). Contudo, devido a esta conexão desta cavidade com a Gruta dos Paiva, a nomenclatura dela necessita de alteração.

A Rede Roça dos Rodrigues, de modo geral, apresenta o desenvolvimento, grosso modo, na direção norte-sul, com sua morfologia que remete a uma dobra, cujo lado côncavo está voltado para o conduto do rio da Gruta dos Paiva. O desenvolvimento dessa cavidade é de 225,38m (desenvolvimento linear), 184,22m (projeção horizontal) e 28,44m de desnível.

Contudo, parte do mapa produzido do Abismo Roça dos Rodrigues, está em sobreposição ao atual mapa da Gruta do Paiva (Figura 6). Portanto, considerando as informações espeleométricas atualizadas e a sobreposição com a Gruta dos Paiva, tem-se que:

  • Desenvolvimento linear na sobreposição do mapa da Paiva: 147,68m
  • Desenvolvimento linear do trecho novo: 77,70m
  • Projeção Horizontal do trecho novo: 65,51m
  • Desnível do trecho novo: 25,32m

A partir destes levantamentos aqui apresentados, pode-se concluir que o Abismo Roça dos Rodrigues não é mais uma caverna isolada, como já considerado pelo GPME (2014), mas parte de um sistema maior, que constitui um trecho da Gruta dos Paiva. Portanto, sugerimos aqui que, a cavidade até então chamada de Abismo Roça dos Rodrigues, seja renomeada para Rede Roça dos Rodrigues.

1.       CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Como a Rede Roça dos Rodrigues faz parte da Gruta dos Paiva então é necessário atualizar essas medidas a topografia da Gruta dos Paiva, que passar a contar com a seguinte espeleometria:

  • Desenvolvimento Linear: 3.808 metros + 70,1 = 3.871,70m;
  • Projeção Horizontal: 3.692 metros + 66,5 = 3.758,5m
  • Desnível: 51 metros* (essa informação será atualizada oportunamente).

Esse trabalho realizado que permitiu a conexão de uma cavidade com a Gruta dos Paiva, que consiste em uma das cavernas mais importantes do parque em termos geológicos, biológicos, turísticos e científicos de forma geral, reforça a necessidade da continuidade dos trabalhos de prospecção, topografia e mapeamento das cavidades do PEI e ZA.

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